28 de outubro de 2008

É ela! É ela! É ela! É ela!

Álvares de Azevedo

É ela! é ela! — murmurei tremendo,e o eco ao longe murmurou — é ela!Eu a vi... minha fada aérea e pura —a minha lavadeira na janela.Dessas águas furtadas onde eu moroeu a vejo estendendo no telhadoos vestidos de chita, as saias brancas;eu a vejo e suspiro enamorado!Esta noite eu ousei mais atrevido,nas telhas que estalavam nos meus passos,ir espiar seu venturoso sono,vê-la mais bela de Morfeu nos braços!Como dormia! que profundo sono!...Tinha na mão o ferro do engomado...Como roncava maviosa e pura!...Quase caí na rua desmaiado!Afastei a janela, entrei medroso...Palpitava-lhe o seio adormecido...Fui beijá-la... roubei do seio delaum bilhete que estava ali metido...Oh! decerto... (pensei) é doce páginaonde a alma derramou gentis amores;são versos dela... que amanhã decertoela me enviará cheios de flores...Tremi de febre! Venturosa folha!Quem pousasse contigo neste seio!Como Otelo beijando a sua esposa,eu beijei-a a tremer de devaneio...É ela! é ela! — repeti tremendo;mas cantou nesse instante uma coruja...Abri cioso a página secreta...Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Manuel Antônio Álvares de Azevedo, precursor do romantismo em nossas letras, nasceu em São Paulo (SP), a 12 de setembro de 1831. Autor de "Noites na Taverna", "Macário" e de copiosa produção poética, muito influenciada pela obra de Byron, morreu no Rio de Janeiro (RJ), a 25 de abril de 1852, quando aluno do quinto ano da Academia de Direito de São Paulo. É o patrono da cadeira nº. 2, da Academia Brasileira de Letras. Autor de versos de grande vibração dramática, como os que escreveu impetrando clemência para o capitão Pedro Ivo, herói da revolução praieira, por vezes feriu também a nota humorística. Os versos acima são uma prova disso. Disse dele Edgard Cavalheiro: "Faltou-lhe para ser gênio, exclusivamente isto: tempo. Fez vibrar todas as cordas da lira, do mais ingênuo lirismo ao mais desabusado erotismo. É zombeteiro e irônico, alegre e triste, vibrante e meigo, sensual e pudico. Devemos-lhe a introdução do humor na poesia brasileira."
Extraído do livro "Humor e Humorismo", Editora Brasiliense - São Paulo, 1961, pág. 94, antologia organizada por Idel Becker.


O Navio Negreiro, Tragédia no Mar (VI)
Castro Alves


Existe um povo que a bandeira empresta Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,Que impudente na gávea tripudia?!...Silêncio!... Musa! chora, chora tantoQue o pavilhão se lave no teu pranto...Auriverde pendão de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerra,E as promessas divinas da esperança...Tu, que da liberdade após a guerra,Foste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!...Fatalidade atroz que a mente esmaga!Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu na vaga,Como um íris no pélago profundo!......Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...Andrada! arranca este pendão dos ares!Colombo! fecha a porta de teus mares!

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em Muritiba (BA), no dia 14 de março de 1847. Em 1862, publica no "Jornal do Recife", onde morava em companhia do irmão mais velho, "Destruição de Jerusalém". Em 1868 viaja para o Rio de Janeiro, onde é recebido por José de Alencar e Machado de Assis. No dia 7 de setembro, em São Paulo, declama "O Navio Negreiro", alcançando grande sucesso. O maior romântico brasileiro e, com Tobias Barreto, um dos fundadores da escola condoreira, inspirada em Vítor Hugo. Nativista, revelador da paisagem brasileira, republicano e abolicionista — o cantor do Navio negreiro é o nosso grande poeta social e nacional.O poeta faleceu no dia 06 de julho de 1871, em Salvador (BA). É o patrono da Cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras.

Mau humor(O AMOR)

Ruy Castro

Algumas mulheres permanecem na memória de um homem, mesmo que ele as tenha visto por um único segundo, atravessando a rua. (Rudyard Kipling)
Nunca tenha filhos. Só netos. (Gore Vidal)
Algumas pessoas têm aquele rosto que, depois de visto, nunca mais é lembrado. (Oscar Wilde)Cuidado com o homem que não devolve a bofetada: ele não a perdoou, nem permitiu que você se perdoasse. (George Bernard Shaw)
Sexo é bom. Mas o poder é melhor. (Jiang Qing)
A proteção mais infalível contra a tentação é a covardia. (Mark Twain)
A virgindade é curável, se detectada cedo. (Henny Youngman)
Algumas mulheres se acham tão lindas que, quando se olham no espelho, não se reconhecem. (Millôr Fernandes)
Quem tem mulher bonita, que vá enviuvar em Belo Horizonte. Mas nunca deixar uma viúva em Ipanema ou no Leblon. (Antonio Maria)
O zangão é a prova de que o golpe-do-baú sai caro. (Fernando Pessoa Ferreira)O problema das crianças é que elas não são descartáveis. (Quentin Crisp)
A vida é dura. Os homens não gostarão de você se você não for bonita - e as mulheres não gostarão de você se você for. (Agatha Christie)
Não se ama duas vezes a mesma mulher. (Machado de Assis)
A melhor maneira de segurar os filhos em casa é fazer do lar um lugar agradável — e esvaziar os pneus do carro. (Dorothy Parker)
Sou judia. Não faço ginástica. Se Deus quisesse que fizéssemos flexões, espalharia diamantes pelo chão. (Joan Rivers)
Todo homem tem o direito de ser imbecil por conta própria. (Ivan Lessa)
Quando se tem vinte anos, a gente vive querendo saber quem transa com as garotas de vinte. Aos trinta, descobre. (Ziraldo)
Pode-se ver um monte de sujeitos inteligentes com mulheres burras, mas você dificilmente verá uma mulher inteligente com um sujeito burro. (Erica Jong)
Não confio em produto local.
Sempre que viajo levo meu uísque e minha mulher. (Fernando Sabino)
Depois de quatro drinques, meu marido se torna um chato. E, depois do quinto, eu desmaio. (Joan Rivers)

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